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Fortaleza, Ceará, Brazil
Professor de Esperanto,Italiano e Português. Revisor de trabalhos acadêmicos: monografias, dissertações e teses. Profesoro pri lingvoj: esperanto, portugala, itala. Reviziisto pri akademiaj verkoj: monografio, disertacio, tezo.

domingo, 4 de abril de 2010

MAIS RESPOSTAS SOBRE O ESPERANTO



MAIS RESPOSTAS PARA QUEM QUER SABER SOBRE O ESPERANTO
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1. "O Esperanto tem as suas raízes na esfera cultural ocidental e está por meio de seu Fundamento rigidamente ligado a essa cultura, conforme ela era no século 19."

Certamente há uma ligação entre o Esperanto real, efetivamente usado, e o Fundamento, mas essa ligação não é totalmente rígida. 95% dos usuários do Esperanto não conhecem o Fundamento e não se importam com ele. O Fundamento tem pouca influência, como se vê caso se pesquise a evolução da língua. Sua influência de fato é essencialmente indireta, por exemplo por meio dos livros didáticos e gramáticas que são em sua maioria feitas por pessoas que se familiarizaram bem com o Fundamento.

Sim, de fato, o Esperanto tem raízes na esfera cultural ocidental. Ou mais exatamente no leste europeu: a ocidentalidade é puramente "uma roupa", externa, aparente. No meu modo de ver, a relação do Esperanto com suas raízes europeias é semelhante àquela da língua crioula haitiana com as raízes dela na língua francesa. Ainda que quase todo o estoque haitiano de palavras seja oriundo das línguas indo-europeias, a língua de fato não é, estruturalmente, indo-europeia. Há uma grande diferença entre as raízes e a planta que amadureceu.

Além do mais, Zamenhof disse clara e corretamente que ele propôs uma língua construída não conforme o modelo europeu. Eis aqui o que ele diz no Unua Libro (Primeiro Livro):

"(...) cada palavra encontra-se sempre e unicamente em uma forma constante, e nessa forma ela está impressa no dicionário. E as diversas formas gramaticais, as relações recíprocas entre as palavras, etc., são expressas pela união de palavras fixas. Mas como uma semelhante construção da língua é totalmente estrangeira para os povos europeus e acostumar-se a ela seria para eles uma coisa difícil, por isso eu ajustei totalmente este desmembramento da língua à essência das línguas europeias de tal modo que, se alguém aprende a minha língua segundo um livro didático sem ler o prefácio antes (o que é totalmente desnecessário para o aprendiz), esta pessoa nem mesmo suporá que a construção desta língua se diferencia em algo da construção de sua língua nativa."

Posteriormente, ele esclarece que fratino (irmã) consiste em três PALAVRAS: frat, in e o. Isso é uma maneira tipicamente chinesa de considerar as coisas. Do texto citado aparece claramente que Zamenhof intencionalmente elaborou uma língua não-europeia com todos os traços de uma assim chamada língua isolante. Dizer que "as diversas formas gramaticais, as relações recíprocas entre as palavras, etc. são expressas pela união de palavras fixas" é definir o critério para uma língua isolante.

Você aparentemente admira que, para Zamenhof, tais elementos linguísticos como o e in são palavras. Na minha opinião ele usou esses termos para acentuar que a língua consiste de blocos não-mutáveis, os quais podem se acrescentar um ao outro, sem proceder uma modificação da forma dentro de um bloco assim em algum dia qualquer que seja (tais modificações são frequentes nas línguas ocidentais, ocmo no inglês: "foot > feet"; "come > came").

Minha impressão é que ele em algum lugar viu uma descrição da língua chinesa, com exemplos, talvez ele tenha tido em mãos uma gramática chinesa, e constatou que tal construção de língua tem muitas vantagens, de um lado por causa da perfeita regularidade, e de outro lado por causa da facilidade por meio da qual ela possibilita exprimir conceitos complexos pela combinação de palavras simples. Pois bem, no século 19, os textos sobre o chinês, baseados sobre a escrita sem consideração com a língua falada, geralmente usava o termo 'palavra' quando de fato tratava-se dos blocos básicos não-mutáveis dos quais a língua consiste. Hoje tais blocos chamam-se de morfemas.

De fato, a essência do Esperanto não tem nada de europeia. Em nenhuma língua europeia se pode colocar o mesmo pensamento em palavras através de tão diferentes frases como li iris kongreson trajne, kongresen li trajnis, li iris al la kongreso per trajno, pertrajne li veturis kongresen,li trajne alkongresis, etc. Essa variedade de expressões se deve ao fato de os morfemas serem absolutamente invariáveis e combináveis sem limite, aspecto o qual o Esperanto compartilha com o chinês.

Para a considerável evolução da língua contribuíram - além dos muitos húngaros durante o período da "escola de Budapeste" - muitos chineses, japoneses e coreanos.

Formação de frases como la nova ponto longas unu kilometron, ou Unesko ree rezolucias favore al Esperanto, achadas em publicações chinesas de Esperanto, totalmente não respondem aos costumes mentais e linguísticos da esfera cultural ocidental. Até mesmo no inglês, no qual facilmente se transformam substantivos em verbos e vice-versa, não se pode usar os conceitos de "longo" ou "resolução" verbalmente.

Que eu saiba, apenas para o Esperanto a admoestação confuciana de quatro palavras aos pais e filhos para cumprirem bem os seus papéis na família é traduzível palavra por palavra, assim, em quatro palavras com forma concisa e poética similar como no original chinês: Patro patru, filu fil'. A única tradução que eu encontrei em inglês é Let the fathers be fathers and the sons sons. Em francês: Que le père agisse en père, le fils en fils. Essas estão muito mais longe do original do que a tradução em Esperanto, não apenas em forma, mas também em sentido: elas são precisas demais. Esse simples exemplo mostra que os radicais europeus da língua não a incomodam no seu funcionamento de mediador intercultural.

2. "Isso também define os limites de sua neutralidade, justiça, democracia e serventia no mundo atual."

Sim sim, com toda a certeza, as boas qualidade do Esperanto são limitadas. Ninguém pretende que ele seja um instrumento perfeito para se comunicar internacionalmente.

Os esperantistas chamam a atenção apenas a respeito de que ele é, na situação atual, o menos pior, ou o menos inútil. Ele não é perfeitamente neutro, perfeitamente justo, perfeitamente democrático, perfeitamente útil. Mas caso se abandone o forte desejo a algo absoluto, e aceita com realismo que neste planeta tudo é imperfeito, deve-se concluir que o Esperanto é, relativamente - no entanto, segundo uma grande medida – o melhor instrumento de comunicação em escala internacional conforme esses critérios. Se a gente o joga fora por causa dessa falta de perfeição, o que resta? A gente fica condenado a usar até mesmo os sistemas que menos contentam! Alguém pretende que o inglês, por exemplo, é mais neutro, mais justo, mais democrático e mais útil? Em caso positivo, eu gostaria de ver por meio de quais argumentos e fatos é defendido esse argumento.

Caso se compare na realidade de qual maneira atualmente se desenvolve (ou se tenta desenvolver), linguisticamente, uma relação entre pessoas de línguas diferentes, se constata que existem principalmente sete situações:

1. incapacidade plena de se comunicar;

2. comunicação mínima do tipo afásico (balbuciante, cortada, uso com má articulação de uma língua que não é bem dominada, com tentativa de tornar precisa através de gestos, expressões faciais, etc.);

3. "broken English" (do funcionamento mínimo em 2 até o melhor funcionamento em 3 existe uma inteira gama de graus de eficiência);

4. inglês bom e de alto nível;

5. uso de uma língua não-inglesa mais ou menos bem dominada pelos comunicantes (caso frequente na África);

6. interpretação simultânea e tradução;

7. Esperanto.

Compare na prática essas sete maneiras de ir a uma comunicação oral internacional, e você constatará que, em relação à neutralidade, justiça, democracia e utilidade, o Esperanto supera em muito todas as outras.

• Ele não é plenamente neutro, mas é mais neutro do que o inglês e outras línguas nacionais, dentre as quais nenhuma está livre de travas políticas, econômicas ou nacionalistas.

• Ele não é plenamente útil, mas, segundo minha experiência sobre os diversos sistemas de comunicação intercultural ou internacional, ele é menos inútil do que os outros, principalmente do que o inglês, cuja imprecisão, incoerência e pronúncia, difícil para a maioria dos povos, o tornam mal adaptado à tarefa de facilitar a comunicação intercultural.

Ele não é plenamente justo: para atingir um bom nível de funcionamento, ele exige na minha avaliação quatro vezes mais tempo para um asiático oriental do que para um ocidental; mas essa relação é muito superior à que exige o inglês, o qual a maioria dos asiáticos orientais nunca conseguem dominar a um nível útil. Se uma pessoa precisa de 200 horas para ser capaz de usar bem o Esperanto, e 5000 para ser capaz de usar bem o inglês ao mesmo nível, há mais justiça no mundo que se comunica pelo Esperanto.

Além disso, um sistema no qual todos participam no mesmo esforço é mais justo do que um sistema no qual uma minoria de privilegiados ficam totalmente sem gastar energia mental e, no entanto, gozam constantemente e sem mérito de uma superioridade no uso da "arma" linguística.

• Ele não é plenamente democrático, mas como admite muito mais liberdade ele é mais democrático do que os outros sistemas. As outras línguas usadas internacionalmente são ditatoriais: elas exigem que a gente organize o pensamento conforme essa estrutura e não conforme essa outra. Por exemplo, no inglês, dizer he helps to me está errado, enquanto no alemão "ele ajuda a mim" (er hilft mir) é a única forma correta, assim como no russo (он мне помогает); no francês, usar a estrutura inglesa ou a alemã, e então dizer il aide moi ou il aide à moi, seria se mostrar como ridículo.

• O fato de que no Esperanto se pode dizer igualmente li helpas min (estrutura inglesa), li min helpas (estrutura francesa) ou li helpas al mi (estrutura alemã e russa) faz com que haja um sentimento de liberdade na expressão que, na minha opinião, respeita mais os princípios da democracia.

• Quanto menos rígidas forem as estruturas, tanto mais se evita o risco de se enganar, e assim se expor ao escárnio ou ao sentimento de inferioridade.

• Ele é mais justo e mais democrático também porque o seu domínio faz com que haja um maior papel para a inteligência do que para a formação reflexiva, do que para a memória, e por meio disso se diminui a diferença entre os povos em relação às chances de dominá-lo bem. Línguas europeias contêm abundância de formas arbitrárias as quais não se pode deduzir, apenas mais ou menos penosamente e com muita repetição enfiar dentro da própria memória (e esquecer após alguns anos). Para um chinês, é mais fácil aprender que 我是 wo shi, 你是 ni shi,


• 他是 ta shi são em Esperanto mi estas, vi estas, li estas, do que enfiar na cabeça I am, you are, he is. Igualmente exige menor energia mental fazer a derivação mi > mia, ŝi > ŝia, completamente paralela ao chinês 我 wo >我的 wode, 她 ta > 她的 tade do que enfiar na cabeça formas sem relação como I - my - mine; she - her - hers. É mais fácil formar eksterlandano (em chinês 外国人 waiguoren) a partir de ekster (em chinês 外wai), land (国 guo) e ano (人ren) do que ter que memorizar a desrelacionada foreigner. Igualmente, com uma série como horse / mare/ colt/ stallion as chances de não achar novamente a palavra na mente quando se precisa dela são maiores do que com a série ĉevalo, ĉevalino, ĉevalido, virĉevalo (em chinês respectivamente 马 ma, 母马 muma, 小马 xiaoma, 公马 gungma; compare também, de um lado, ox /cow / calf / bull, e de outro lado bovo > bovino > bovido > virbovo, em chinês: 牛 niu > 母牛 muniu > 小牛 xiaoniu > 公牛 gongniu).

Por causa desse menor carregamento da memória, relacionado a centenas de milhares de elementos linguísticos, se aprende o Esperanto com muito mais rapidez do que outras línguas e mais facilmente se sustenta na mente.

Além disso, o sentimento de conforto linguístico é maior no meio internacional falante de Esperanto do que em um meio que usa outro sistema. As pessoas se sentem mais respeitadas. O sentimento é de que a língua foi feita para o ser humano, para possibilitar a comunicação entre seres humanos, e não que o homem é aquele que, como inferior, deve se adaptar à língua, ou seja, aos caprichos arbitrários dos tataravôs do respectivo povo.

Por tudo isso o Esperanto se aproxima mais aos ideais inatingíveis de neutralidade, justiça, democracia e utilidade. Quando se afronta diversas opções, a sabedoria não convida a eleger a melhor mesmo se ela não é a ideal?

O interrelacionamento internacional se intensifica muitíssimo rápido. Por exemplo o número de imigrantes trabalhadores cresceu de 75 a 200 milhões em 30 anos. Uma organização inteligente da sociedade exige que ela compare, desde o ponto de vista da relação custo/eficácia e também da justiça etc., os diferentes métodos de se comunicar interculturalmente - principalmente o inglês e o Esperanto - e eleja aquela com a relação mais favorável. Os muitíssimos homens que sofrem frustrações e injustiça pela incapacidade de se comunicar oralmente merecem mais atenção do que se dedica a eles.

3. "Não é mais útil, por exemplo, a sua estrutura patriarcal."

O Esperanto tem mesmo uma estrutura patriarcal? Certamente não mais do que as outras línguas usadas hoje em relações internacionais. Se o Esperanto não estivesse marcado pelas suas raízes em línguas viventes, pelo seu lugar e tempo de nascimento, alguém criticaria que ele é abstrato, um produto de laboratório sem vida. Ele deve muito da sua essência ao lugar e tempo nos quais ele, digamos, se concretizou.

Mas exatamente por causa disso ele tem uma vivência, alma, atmosfera própria, que os outros projetos de línguas internacionais nunca adquiriram, e que é uma vantagem, psicologicamente, pois usando-o a gente tem o sentimento de usar uma língua humana normal, não um código.

Mas, seja como for, eu não entendo porque as raízes patriarcais do Esperanto, caso elas existam em suma, o tornariam uma língua internacional menos útil do que o inglês (ou o latim, ou o japonês...). Essas não têm estrutura patriarcal? De novo eu devo enfatizar, que não tem sentido procurar uma língua perfeita. O que o mundo precisa é uma língua capz verdadeira e seriamente curar os homens da afasia de origem social à qual o uso global do inglês agora condena a maioria dos homens que devem se comunicar com pessoas de outras línguas.

O Esperanto é a única língua sobre a qual é possível de provar objetivamente que ela cura com relativa rapidez as pessoas dessa maneira mais ou menos afásica de se comunicar que caracteriza as relações internacionais atuais baseadas sobre o uso do inglês
(ou sobre sistemas como interpretação simultânea, na qual à grande parte dos participantes na discussão é imposto que falem outra língua que não a própria).

3. Não seria melhor criar uma nova e mais justa língua para a comunicação internacional?

Eu discorro de um ponto muito prático: qual escolha as pessoas têm hoje? Ao invés de pegar como base de referência uma língua ideal que não existe, eu comparo o Esperanto aos remédios para a comunicação que está disponíveis na prática. Eu também levo em consideração a sorte dos povos não-ocidentais. Ela é para mim importantíssima, como certamente sentiram bem todos vocês que em seu tempo leram meu artigo "O dialeto ocidental" ou meu livro "A boa língua". Mas eu constato que, caso os não-ocidentais não elegem o Esperanto, eles ou devem por competo se resignar a contatos internacionais diretos ou tentar aprender o inglês.

Esta última contém os maus traços demasiados ocidentais do Esperanto em grandissimamente, verdadeira e gradissimamente mais alto nível, de fato em tal grau que apenas uma pequena elite desses povos (ao menos na Ásia oriental) conseguem aprender a língua para ser capaz de se comunicar efetivamente. O Esperanto fornece melhores resultados consideravelmente. Eu recolhi muitos testemunhos de asiáticos orientais que aprenderam tanto o inglês quanto o Esperanto. Eles são unânimes na constatação de que atingir um nível eficaz no Esperanto exige muito menos penar e tempo do que no inglês.

A partir disso eu concluo que tão longamente quanto outra melhor língua de comunicação geral não se estabeleceu e vive, o mundo com o Esperanto é mais justo, mais confortável, mais agradável do que o mundo sem o Esperanto para esses que devem ter uma comunicação entre os povos.

De fato, eu penso não apenas nos adultos -- ainda que meu trabalho temporário com refugiados me fez conhecer a imensidão de complicações que a falta de língua causa -- e nas pessoas que devem se comunicar além-fronteiras, mas também nesses milhões e milhões de jovens no mundo inteiro, aos quais se obriga a enfiar na cabeça muitíssimas incoerências da língua inglesa, a qual eles nunca dominarão, enquanto que caso alguém instruísse a eles o Esperanto as chances de dominá-lo após um longo penar menos frustrante
seriam muito maiores.

É absurdo esse gigante investimento de energia mental para um empreendimento que fracassa em grande parte. Não é desse modo que uma sociedade inteligentemente usa o seu dinheiro e a energia nervosa do povo.

Portanto me parece digno estar em atividade para conscientizar a humanidade que o Esperanto é uma melhor solução, até mesmo se ele completamente não é ideal, muitíssimo falta até isso. E até mesmo se o ativismo durar alguns séculos.

Era digno lutar para combater e acabar com a escravidão, mesmo quando sua eliminação aparecia como irrealizável e quando os progressos para esse fim se mostravam desencorajadoramente lentos.

Naturalmente, o ativismo pelo Esperanto não seria possível caso ele se reduzisse apenas a esse motivo ideal. Também os muitos prazeres que a língua já agora trazem para aqueles que a aprendem merecem consideração e motivam, fora da visão ideal e em complementação a ela.

No que concerne à língua mais ideal, não apenas torná-la viva exigirá ao menos um século de prática por todo lado e em todo o mundo após a sua publicação, mas sem uma base ideológica comparável àquela que Zamenhof fez o Esperanto ter ela terá muito poucas chances de se tornar uma língua verdadeiramente vivente e adquirir para si a base social necessária. Ao menos com o Esperanto o processo ocorreu e a língua agora está pronta.

Respondeu o tradutor, psicólogo e escritor Claude Piron.

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