MÃE QUERIDA
Maria Dolores
Torno a ver, nos meus dias de
criança,
O teu regaço, a lamparina acesa,
O pequeno lençol que trago na
lembrança,
A oração da manhã e o pão à
mesa...
Varro o chão, a fitar-te as mãos
escravas,
Afagando o fogão, de momento a momento...
A roupa e o batedouro em que
cantavas
Para esquecer o próprio
sofrimento...
Depois, era o tinir da caçarola,
Aumentando a despesa no
armazém...
Vestias-me de renda para a escola
E nunca me lembrei de ofertar-te
um vintém.
Cresci... A mocidade me requesta,
Ante a cidade de qualquer
maneira...
Parti... – eu era a rosa para a
festa,
Ficaste...- era a rústica
roseira.
De tudo vi na estrada grande e
nova,
As flores do prazer, o brilho, a
fama,
A malícia dourada e os suplícios
da prova
Marcando o pranto e
fel os passos de quem ama...
Hoje, volto a
buscar-te, mãe querida,
Dá-me de tua paz sem
ilusão,
Guarda-me em ti, amor
de minha vida,
Alma querida de meu
coração.
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