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Fortaleza, Ceará, Brazil
Professor de Esperanto,Italiano e Português. Revisor de trabalhos acadêmicos: monografias, dissertações e teses. Profesoro pri lingvoj: esperanto, portugala, itala. Reviziisto pri akademiaj verkoj: monografio, disertacio, tezo.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011






UM POUCO DA LÍNGUA MATERNA

OCORRÊNCIA X NÃO OCORRÊNCIA DO HÍFEN EM COMPOSTOS FORMADOS POR PREFIXO OU PSEDUDOPREFIXO

Por Adelson Sobrinho
Professor de Português, Italiano e Esperanto- UFC
adelsonsobrinho@bol.com.br

Hífen: “ notação léxica, pequeno traço horizontal menor que o travessão ( - ), que serve para ligar os elementos de palavras compostas (arco-íris), para prender a verbos e outras palavras os pronomes átonos( dá-lhe, dá-se-lhe, ei-lo, no-lo ), para partir vocábulos no fim de linha(antigamen-te), para escandir sílabas (dig-na-rí-a-mos, cir-cuns-cre-ver, abs-ti-nên-cia).(Luf, 1973, p. 96).

O VOLP - Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, Base XV e XVI, assim o regulamentou:

Emprega-se o hífen nas palavras compostas por justaposição que não contêm formas de ligação e cujos elementos, de natureza nominal, adjetival, numeral ou verbal, constituem uma unidade sintagmática e semântica e mantêm acento próprio.

Quanto ao emprego do hífen na formações por prefixação e também por recomposição, isto é, nas formações com pseudoprefixos de origem grega ou latina, apresenta-se alguma inovação. Assim, algumas regras são formuladas em termos contextuais.(VOLP, XLII, 6.2/6.3).

Como nosso objetivo não é repetir as regras ipsis literis, apresentaremos um quadro sistemático de ocorrência e não ocorrência, de forma a facilitar a pesquisa de todos aqules que se interessam pelo assunto em questão.

Prefixo: “ morfema que se agrega ao radical(tema) para formar uma nova palavra”(Luft, p.159).

Prefixação: “ é utilizada quando queremos, a partir do significado de uma palavra, formar outra semanticamente relacionada, que apresente uma diferença semântica específica em relação à palavra base.

Existe toda uma série de relações possíveis e sempre de caráter geral. Temos, por exemplo,o prefixo {pré-}, que indica anterioridade: pré-fabricado, pré-disseminação, pré-vestibular, pré-adolescência, etc.; o prefixo {re-}, que indica repetição: refazer, reler, relembrar, retomar, recomeçar. Em todos os casos, a palavra que se forma mantém uma relação semântica fixa com a palavra-base”(Basílio, p. 9).

Base: “elemento que constitui o núcleo de uma construção morfológica; forma sobre a qual um processo atua para a formação de uma palavra”(Basílio, p. 176).

Recomposição: “restituição de um elemento de uma palavra composta à forma que ele tinha como palavra simples.(Duibois, p.502)

  1. SITUAÇÕES DE OCORRÊNCIA

    A- Geral – Ocorre em todas os compostos cuja palavra-base começa por H.
    Ex.: Ante-hipófise, anti-histamina, pré-histórico etc.

    B- Específicas

    1. Ocorre em todos os compostos cuja palavra-base começa por vogal igual à quela vogal final do prefixo ou pseudoprefixo.
    Ex.: Contra-argumento, ante-estreia,anti-inflacionário,auto-observação, micro-onda , etc.

    2. Ocorre sempre diante de quaisquer bases com os prefixos seguintes:

    {ALÉM-}       Além-mar, além-túmulo, além-fronteira, etc

    {AQUÉM-}    Aquém-fronteiras

    {RECÉM-}    Recém-casado

    {EX-}             Ex-namorado, Ex-presidente

    {SEM-}          Sem-vergonha

{SOTO-} Sota-piloto

{SOTA-} Sota-ministro

{PRÉ-} Pré-adolescência, pré-natal, pré-escolar

{PÓS-} Pós-graduação, pós-tônico, etc.

{PRÓ-} Pró-africano, pró-africano, pró-europeu

{VICE-} Vice-campeão, vice-presidente

{VIZO-} vizo- rei

  1. Ocorre com os prefixos {INTER-} , {HIPER-} e {SUPER-}, diante de bases que começam por -R.
    Ex.: Inter-resistente, hiper-requintado, super-revista, hiper-humano, etc.

  2. Nos compostos com {CIRUM-}, e {PAN-}, quando a palavra-base começa por vogal, M, ou N.
    Ex.: Circum-escolar, circum-murar, circum-anal, circum-navegar, pan-ótico,
    pan-islamita, pan-órgão etc.

  3. Com os prefixos {AB-}, {OB-}, {AD-} e   {SUB-}, quando a palavra-base começa por R, ou por consoante igual àquela do prefixo.
    Ex.: Ab-rogar, ad-renal, sub-reptício, sub-bibliotecário, etc.

  1. SITUAÇÕES DE NÃO OCORRÊNCIA

    A – Geral.

    1.Em todos os compostos cuja palavra-base começa por vogal diferente daquela final do prefixo ou pseudoprefixo.
    Ex.: Autoeducação, infraestrutura, socioeconômico, pseudoamigo etc.
    2. Em todas as palavras cuja base comece por consoante, a exceção daqueles que começam com H.
Ex.: Anticristo, extraescolar, infraestrutura, aeroespacial, autoanálise, agroindustrial, plurianual,autoestima etc.

B – Específicas.

1.Nas palavras cujo prefixo termina por vogal e a palavra base começa por R- ou S-. Neste caso as consoantes da junção devem ser duplicadas.

Ex.: Antirreligoso, autorretrato, Minissaia, infrassom, Microrradiografia, etc.

        1. Nas formações com os prefixos {DES-} e {IN-}, cuja palavra-base perdeu o H- inicial.
Ex.: Desumano, inábil, etc.desabitado, desumilde, desarmonia,

          1. Nos compostos pelo prefixo {CO-} em quaisquer situações de ocorrência da palavra-base.

            Ex.: Coobrigação, coadjuvante, coenunciador, cooperar, coordenar, coobrigar.

            Quando a palavra-base inicia por H-, esta perde a consoante inicial.

Ex.: Co+herdar = Coerdar; coonestação, coabitar, etc.
          1. Nas formações com os prefixos {PRE-}, {PRO-} e {POS-} átonos.
            Ex.: Prefixado, preexistir, prolabial, pospor etc.
  1. SITUAÇÃO ESPECIAL

    Tomaremos por empréstimo as próprias palavras do VOLP, p.XXVII, que assim leciona:

    Emprega-se o hífen em compostos com os advérbios BEM e MAL, quando estes formam com o elemento que se lhes segue uma unidade sintagmática e semântica e tal elemento começa por vogal ou H-. No entanto, o advérbio BEM, ao contrário de MAL, pode não se aglutinar com palavras começadas por consoante. Eis alguns exemplos de várias situações:

    Bem-aventurado – Mal-aventurado;

    Bem-estar – Mal-estar;

    Bem-humorado - Mal-humorado;

    Bem-criado - Malcriado;

    Bem-ditoso - Malditoso;

    Bem-falante - Malfalante;

    Bem-mandado – Malmandado;

    Bem-nascido - Malnascido;

    Bem-soante - Malsoante;

    Bem-visto - Malvisto”.

  1. CONCLUSÃO
Tomando como exemplo o prefixo {ANTE-}, observamos que na composição de novas palavas o hífen é de ocorrência mínima. Vejamos:

  1. Antealcova
  2. Ante-estreia
  3. Anteislâmico
  4. Ante-hipófise
  5. Antelabial
  6. Anterreforma
  7. Antessala
Daí, nos perguntamos: Se dentre sete situações, só em duas ocorrem hífen, qual a utilidade deste sinal diacrítico se ele não é um elemento sistemático?

Portanto, posso concluir, apoiado nas palavras de dois grandes mestres da Linguística, que

...o emprego desse sinal diacrítico é incoerente” (Mattoso, 1994,p.71) e constitui “no drama da infernização para quantos empolgam a pena”(Macambira, 1998, p.68).

A inutilidade dessa notação gráfica(hifen) é tamanha que as línguas neolatinas Espanhol e Italiano não o utilizam, principalmente nas formas verbais enclíticas. Vejamos:
  1. Português – Conhecê-la
  2. Espanhol - Conocerla
  3. Italiano - Conoscerla

OBRAS CONSULTADAS
  1. ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa.(VOLP), 5.ed. São Paulo: Global, 2009.

  2. BASÍLIO, Margarida. Teoria Lexical. São Paulo: Ática, 1995.

  3. CÂMARA Jr., J.M. Estrutura da língua portuguesa. 2.ed. Petrópolis: Vozes, 1994.

  1. DUBOIS, Luft. Diconário de Linguística.
  2. CÂMARA Jr., J.M. Estrutura da língua portuguesa. 2.ed. Petrópolis: Vozes, 1994.

  3. KEHDI, V. Morfemas do português. SP: Àtica, 1990(Série Princípios, nº188).

  4. LUFT, Dicionário gramatical da Língua Portuguesa. Porto Alegre: globo, 1973.

  5. MACAMBIRA, José Rebouças. Português estrutural. São Paulo: Livraria Pioneira, 1998(Manuais de estudo).





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