OCORRÊNCIA X NÃO OCORRÊNCIA DO HÍFEN EM
COMPOSTOS FORMADOS POR PREFIXO OU PSEUDOPREFIXO
Adelson
Sobrinho
Professor de Português, Italiano e
Esperanto- UFC
adelsonsobrinho@bol.com.br
Hífen: ”notação
léxica, pequeno traço horizontal menor que o travessão (-), que serve
para ligar os elementos de palavras compostas (arco-íris), para prender a
verbos e outras palavras os pronomes átonos (dá-lhe, dá-se-lhe, ei-lo, no-lo),
para partir vocábulos no fim de linha(antigamen-te), para escandir sílabas
(dig-na-rí-a-mos, cir-cuns-cre-ver, abs-ti-nên-cia).(Luf, 1973, p. 96).
O VOLP - Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, Base XV e XVI, assim o regulamentou:
“Emprega-se o hífen nas palavras compostas por justaposição que não
contêm formas de ligação e cujos elementos, de natureza nominal, adjetival,
numeral ou verbal, constituem uma unidade sintagmática e semântica e mantêm
acento próprio.
Quanto ao emprego do hífen nas
formações por prefixação e também por recomposição,
isto é, nas formações com pseudoprefixos de origem grega ou latina,
apresenta-se alguma inovação. Assim, algumas regras são formuladas em termos contextuais.
(VOLP, XLII, 6.2/6.3).
Como nosso objetivo não é
repetir as regras ipsis literis, apresentaremos um quadro sistemático de
ocorrência e não ocorrência, de forma a facilitar a pesquisa de todos aqueles
que se interessam pelo assunto em questão.
Prefixo: ”morfema que se agrega ao radical (tema) para formar uma nova
palavra” (Luft, p.159).
Prefixação: ”é utilizada quando queremos, a partir do significado de uma
palavra, formar outra semanticamente relacionada, que apresente uma diferença
semântica específica em relação à palavra base”.
Existe toda uma série de
relações possíveis e sempre de caráter geral. Temos, por exemplo, o prefixo {pré-}, que indica anterioridade: pré-fabricado, pré-disseminação, pré-vestibular, pré-adolescência, etc.; o
prefixo {re-}, que indica repetição: refazer, reler, relembrar, retomar, recomeçar. Em todos os casos, a
palavra que se forma mantém uma relação semântica fixa com a palavra-base (Basílio,
p. 9).
Base: “elemento que constitui o núcleo de uma construção morfológica; forma
sobre a qual um processo atua para a formação de uma palavra” (Basílio, p.
176).
Recomposição: “restituição
de um elemento de uma palavra composta à forma que ele tinha como palavra
simples”. (Dubois, p.502)
1.
SITUAÇÕES DE OCORRÊNCIA
A- Geral – Ocorre em todos os
compostos cuja palavra-base começa por H.
Ex.: Ante-hipófise, anti-histamina, pré-histórico
etc.
B- Específicas
1.
Ocorre em todos os compostos cuja palavra-base começa por vogal
igual àquela vogal final do prefixo ou pseudoprefixo.
Ex.: Contra-argumento, ante-estreia, anti-inflacionário,
auto-observação, micro-onda, etc.
2. Ocorre sempre diante de quaisquer bases com os prefixos seguintes:
{ALÉM-} Além-mar, além-túmulo, além-fronteira, etc
{AQUÉM-} Aquém-fronteiras
{RECÉM-} Recém-casado
{EX-} Ex-namorado, Ex-presidente
{SEM-} Sem-vergonha
{SOTO-} Sota-piloto
{SOTA-} Sota-ministro
{PRÉ-} Pré-adolescência,
pré-natal, pré-escolar
{PÓS-} Pós-graduação, pós-tônico,
etc.
{PRÓ-} Pró-africano,
pró-europeu,
{VICE-} Vice-campeão,
vice-presidente
{VIZO-} vizo- rei
3.
Ocorre com os prefixos {INTER-}, {HIPER-} e {SUPER-},
diante de bases que começam por - R.
4.
Ex.: Inter-resistente, hiper-requintado, super-revista,
hiper-humano, etc.
5.
Nos compostos com {CIRUM-}, e {PAN-}, quando a
palavra-base começa por vogal, M,
ou N.
Ex.: Circum-escolar, circum-murar, circum-anal,
circum-navegar,
6.
Com os prefixos {AB-}, {OB-}, {AD-} e {SUB-}, quando a
palavra-base começa por R, ou por consoante igual àquela do
prefixo.
7.
Ex.: Ab-rogar, ad-renal, sub-reptício, sub-bibliotecário,
etc.
2.
SITUAÇÕES DE NÃO OCORRÊNCIA
A – Geral.
1.
Em todos os compostos cuja palavra-base começa por vogal diferente
daquela final do prefixo ou pseudoprefixo.
Ex.: Autoeducação, infraestrutura, socioeconômico,
pseudoamigo etc.
2.
Em todas as palavras cuja base comece por consoante, à exceção
daquelas que começam com H.
Ex.: Anticristo,
extraescolar, infraestrutura, aeroespacial, autoanálise,
agroindustrial, plurianual, autoestima etc.
B – Específicas.
1. Nas palavras cujo
prefixo termina por vogal e a palavra base começa por R- ou S-. Neste caso as
consoantes da junção devem ser duplicadas.
Ex.: Antirreligoso,
autorretrato, Minissaia, infrassom, Microrradiografia,
etc.
2.
Nas formações com os prefixos {DES-} e {IN-}, cuja
palavra-base perdeu o H-
inicial.
Ex.: Desumano, inábil, desabitado, desumilde, desarmonia etc.
3.
Nos compostos pelo prefixo {CO-} em quaisquer situações de ocorrência
da palavra-base.
Ex.: Coobrigação, coadjuvante, coenunciador, cooperar, coordenar, coobrigar.
Quando a palavra-base inicia por H-,
esta perde a consoante inicial.
Ex.: Co+herdar = Coerdar; coonestação, coabitar, etc.
4.
Nas formações com os prefixos {PRE-}, {PRO-} e {POS-} átonos.
Ex.: Prefixado, preexistir, prolabial, pospor etc.
3.
SITUAÇÃO ESPECIAL
Tomaremos por empréstimo as próprias palavras do VOLP, p.XXVII, que
assim leciona:
“Emprega-se o hífen em
compostos com os advérbios BEM e MAL,
quando estes formam com o elemento que se lhes segue uma unidade sintagmática e
semântica e tal elemento começa por vogal ou H-”.
No entanto, o advérbio BEM, ao contrário de MAL, pode não se aglutinar com
palavras começadas por consoante. Eis alguns exemplos de várias situações:
Bem-aventurado – Mal-aventurado;
Bem-estar – Mal-estar;
Bem-humorado - Mal-humorado;
Bem-criado - Malcriado;
Bem-ditoso - Malditoso;
Bem-falante - Malfalante;
Bem-mandado – Malmandado;
Bem-nascido - Malnascido;
Bem-soante - Malsoante;
Bem-visto - Malvisto”
4.
CONCLUSÃO
Tomando como exemplo o
prefixo {ANTE-},
observamos que na composição de novas palavras o hífen é de ocorrência mínima.
Vejamos:
1.
Antealcova
2.
Ante-estreia
3.
Anteislâmico
4.
Ante-hipófise
5.
Antelabial
6.
Anterreforma
7.
Antessala
Daí, nos perguntamos: Se
dentre sete situações, só em duas ocorrem hífen, qual a utilidade deste sinal
diacrítico se ele não é um elemento sistemático?
Portanto, posso concluir,
apoiado nas palavras de dois grandes mestres da Linguística, que
“... o emprego desse sinal diacrítico é incoerente” (Mattoso, 1994, p.71)
e constitui “no drama da infernização para quantos empolgam a pena” (Macambira,
1998, p.68).
A inutilidade dessa notação
gráfica (hífen) é tamanha que as línguas neolatinas Espanhol e Italiano não o
utilizam, principalmente nas formas verbais enclíticas. Vejamos:
1.
Português – Conhecê-la
2.
Espanhol - Conocerla
3.
Italiano – Conoscerla
OBRAS CONSULTADAS
1.
ACADEMIA
BRASILEIRA DE LETRAS. Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa. (VOLP), 5.ed.
São Paulo: Global, 2009.
2.
BASÍLIO,
Margarida. Teoria Lexical.
São Paulo: Ática, 1995.
3.
CÂMARA
Jr., J.M. Estrutura da língua
portuguesa. 2.ed. Petrópolis: Vozes, 1994.
4.
DUBOIS,
Luft. Dicionário de
Linguística.
5.
CÂMARA
Jr., J.M. Estrutura da língua
portuguesa. 2.ed. Petrópolis: Vozes, 1994.
6.
KEHDI,
V. Morfemas do português.
SP: Ática, 1990(Série Princípios, nº188).
7.
LUFT, Dicionário gramatical da
Língua Portuguesa. Porto
Alegre: globo, 1973.
8.
MACAMBIRA,
José Rebouças. Português
estrutural. São Paulo:
Livraria Pioneira, 1998(Manuais de estudo).
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