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Fortaleza, Ceará, Brazil
Professor de Esperanto,Italiano e Português. Revisor de trabalhos acadêmicos: monografias, dissertações e teses. Profesoro pri lingvoj: esperanto, portugala, itala. Reviziisto pri akademiaj verkoj: monografio, disertacio, tezo.

quinta-feira, 28 de junho de 2012



OCORRÊNCIA X NÃO OCORRÊNCIA DO HÍFEN EM COMPOSTOS FORMADOS POR PREFIXO OU PSEUDOPREFIXO

 Adelson Sobrinho
Professor de Português, Italiano e Esperanto- UFC
adelsonsobrinho@bol.com.br

Hífen: notação léxica, pequeno traço horizontal menor que o travessão (-), que serve para ligar os elementos de palavras compostas (arco-íris), para prender a verbos e outras palavras os pronomes átonos (dá-lhe, dá-se-lhe, ei-lo, no-lo), para partir vocábulos no fim de linha(antigamen-te), para escandir sílabas (dig-na-rí-a-mos, cir-cuns-cre-ver, abs-ti-nên-cia).(Luf, 1973, p. 96).

O VOLP - Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, Base XV e XVI, assim o regulamentou:

Emprega-se o hífen nas palavras compostas por justaposição que não contêm formas de ligação e cujos elementos, de natureza nominal, adjetival, numeral ou verbal, constituem uma unidade sintagmática e semântica e mantêm acento próprio.

Quanto ao emprego do hífen nas formações por prefixação e também por recomposição, isto é, nas formações com pseudoprefixos de origem grega ou latina, apresenta-se alguma inovação. Assim, algumas regras são formuladas em termos contextuais. (VOLP, XLII, 6.2/6.3).

Como nosso objetivo não é repetir as regras ipsis literis, apresentaremos um quadro sistemático de ocorrência e não ocorrência, de forma a facilitar a pesquisa de todos aqueles que se interessam pelo assunto em questão.

Prefixo: ”morfema que se agrega ao radical (tema) para formar uma nova palavra” (Luft, p.159).

Prefixação: ”é utilizada quando queremos, a partir do significado de uma palavra, formar outra semanticamente relacionada, que apresente uma diferença semântica específica em relação à palavra base”.

Existe toda uma série de relações possíveis e sempre de caráter geral. Temos, por exemplo, o prefixo {pré-}, que indica anterioridade: pré-fabricado, pré-disseminação, pré-vestibular, pré-adolescência, etc.; o prefixo {re-}, que indica repetição: refazer, reler, relembrar, retomar, recomeçar. Em todos os casos, a palavra que se forma mantém uma relação semântica fixa com a palavra-base (Basílio, p. 9).

Base: “elemento que constitui o núcleo de uma construção morfológica; forma sobre a qual um processo atua para a formação de uma palavra” (Basílio, p. 176).

Recomposição: “restituição de um elemento de uma palavra composta à forma que ele tinha como palavra simples”. (Dubois, p.502)


1.      SITUAÇÕES DE OCORRÊNCIA

A- Geral – Ocorre em todos os compostos cuja palavra-base começa por H.
Ex.: Ante-hipófise, anti-histamina, pré-histórico etc.

B- Específicas

1.     Ocorre em todos os compostos cuja palavra-base começa por vogal igual àquela vogal final do prefixo ou pseudoprefixo.

Ex.: Contra-argumento, ante-estreia, anti-inflacionário, auto-observação, micro-onda, etc.

2. Ocorre sempre diante de quaisquer bases com os prefixos seguintes:

{ALÉM-}        Além-mar, além-túmulo, além-fronteira, etc

{AQUÉM-}     Aquém-fronteiras

{RECÉM-}     Recém-casado

{EX-}             Ex-namorado, Ex-presidente

{SEM-}          Sem-vergonha

{SOTO-} Sota-piloto

{SOTA-} Sota-ministro

{PRÉ-} Pré-adolescência, pré-natal, pré-escolar

{PÓS-} Pós-graduação, pós-tônico, etc.

{PRÓ-} Pró-africano, pró-europeu, 

{VICE-} Vice-campeão, vice-presidente

{VIZO-} vizo- rei

3.      Ocorre com os prefixos {INTER-}, {HIPER-} e {SUPER-}, diante de bases que começam por - R.
4.       
Ex.: Inter-resistente, hiper-requintado, super-revista, hiper-humano, etc.

5.      Nos compostos com {CIRUM-}, e {PAN-}, quando a palavra-base começa por vogal, M, ou N.

Ex.: Circum-escolar, circum-murar, circum-anal, circum-navegar,

6.      Com os prefixos {AB-}, {OB-}, {AD-} e   {SUB-}, quando a palavra-base começa por R, ou por consoante igual àquela do prefixo.
7.       
Ex.: Ab-rogar, ad-renal, sub-reptício, sub-bibliotecário, etc.



2.      SITUAÇÕES DE NÃO OCORRÊNCIA

A – Geral.

1.        Em todos os compostos cuja palavra-base começa por vogal diferente daquela final do prefixo ou pseudoprefixo.

Ex.: Autoeducação, infraestrutura, socioeconômico, pseudoamigo etc.

2.     Em todas as palavras cuja base comece por consoante, à exceção daquelas que começam com H.

Ex.: Anticristo, extraescolar, infraestrutura, aeroespacial, autoanálise, agroindustrial, plurianual, autoestima etc.


B – Específicas.

1. Nas palavras cujo prefixo termina por vogal e a palavra base começa por R- ou S-. Neste caso as consoantes da junção devem ser duplicadas.

Ex.: Antirreligoso, autorretrato, Minissaia, infrassom, Microrradiografia, etc.

2.      Nas formações com os prefixos {DES-} e {IN-}, cuja palavra-base perdeu o H- inicial.

Ex.: Desumano, inábil, desabitado, desumilde, desarmonia etc.


3.      Nos compostos pelo prefixo {CO-} em quaisquer situações de ocorrência da palavra-base.

Ex.: Coobrigação, coadjuvante, coenunciador,  cooperar, coordenar, coobrigar.

Quando a palavra-base inicia por H-, esta perde a consoante inicial.

Ex.: Co+herdar = Coerdar; coonestação, coabitar, etc.

4.      Nas formações com os prefixos {PRE-}, {PRO-} e {POS-} átonos.

Ex.: Prefixado, preexistir, prolabial, pospor etc.


3.      SITUAÇÃO ESPECIAL

Tomaremos por empréstimo as próprias palavras do VOLP, p.XXVII, que assim leciona:

Emprega-se o hífen em compostos com os advérbios BEM e MAL, quando estes formam com o elemento que se lhes segue uma unidade sintagmática e semântica e tal elemento começa por vogal ou H-”. No entanto, o advérbio BEM, ao contrário de MAL, pode não se aglutinar com palavras começadas por consoante. Eis alguns exemplos de várias situações:

Bem-aventurado – Mal-aventurado;

Bem-estar – Mal-estar;

Bem-humorado - Mal-humorado;

Bem-criado - Malcriado;

Bem-ditoso - Malditoso;

Bem-falante - Malfalante;

Bem-mandado – Malmandado;

Bem-nascido - Malnascido;

Bem-soante - Malsoante;

Bem-visto - Malvisto”

4.      CONCLUSÃO

Tomando como exemplo o prefixo {ANTE-}, observamos que na composição de novas palavras o hífen é de ocorrência mínima. Vejamos:

1.      Antealcova
2.      Ante-estreia
3.      Anteislâmico
4.      Ante-hipófise
5.      Antelabial
6.      Anterreforma
7.      Antessala

Daí, nos perguntamos: Se dentre sete situações, só em duas ocorrem hífen, qual a utilidade deste sinal diacrítico se ele não é um elemento sistemático?

Portanto, posso concluir, apoiado nas palavras de dois grandes mestres da Linguística, que

... o emprego desse sinal diacrítico é incoerente” (Mattoso, 1994, p.71) e constitui “no drama da infernização para quantos empolgam a pena” (Macambira, 1998, p.68).

A inutilidade dessa notação gráfica (hífen) é tamanha que as línguas neolatinas Espanhol e Italiano não o utilizam, principalmente nas formas verbais enclíticas. Vejamos:

1.      Português – Conhecê-la
2.      Espanhol - Conocerla
3.      Italiano – Conoscerla


OBRAS CONSULTADAS

1.      ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa. (VOLP), 5.ed. São Paulo: Global, 2009.

2.      BASÍLIO, Margarida. Teoria Lexical. São Paulo: Ática, 1995.

3.      CÂMARA Jr., J.M. Estrutura da língua portuguesa. 2.ed. Petrópolis: Vozes, 1994.

4.      DUBOIS, Luft. Dicionário de Linguística.
5.      CÂMARA Jr., J.M. Estrutura da língua portuguesa. 2.ed. Petrópolis: Vozes, 1994.

6.      KEHDI, V. Morfemas do português. SP: Ática, 1990(Série Princípios, nº188).

7.      LUFT, Dicionário gramatical da Língua Portuguesa. Porto Alegre: globo, 1973.

8.      MACAMBIRA, José Rebouças. Português estrutural. São Paulo: Livraria Pioneira, 1998(Manuais de estudo).





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