UNIVERSIDADE
FEDERAL DO CEARÁ
CENTRO
DE HUMANIDADES
COORDENADORIA
GERAL DAS CASAS DE CULTURA ESTRANGEIRA
Esperanto-kurso
Prof. Adelson Sobrinho www.adelsonsobrinho.blogspot.com.br
PROCESSO DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS POR AFIXOS
1.
Imutabilidade morfemática
A
ausência de alomorfia* nos formantes das palavras em Esperanto torna o sistema morfológico, simétrico,
produtivo, econômico, conciso e plenamente regular.
Entende-se por alomorfia a mudança da forma da palavra num de seus segmentos
constitutivos, por exemplo, observe-se, em Português, a mudança da raiz {Perd-} ~ {Perc-} e a comparemos com as formas
respectivas na Língua Internacional Planejada:
Português
|
Esperanto
|
Perder tempo não é inteligente.
|
Perdi
tempon ne estas inteligente.
|
A perda do tempo é lamentável.
|
La
perdo de la tempo estas bedaŭrinda.
|
Não
quero que percas tempon. Mi ne volas ke vi
ne perdu tempon.
|
Portanto, como o Esperanto não permite a seus usuários nenhuma perda de tempo, ele não apresenta alomorfes em seus formantes.
Alomorfe = Alo(outra)
+ morfe (menor unidade de forma). Daí alomorfe=Outra forma.
Tomemos como exemplo as raízes {Tuŝ-} = {Toc-} e {Vid-}
dos verbos Tuŝi=Tocar e Vidi = Ver:
{Toc-} {-a-} {-r} = {Tuŝ-}{-i}; {Vid-}{-i} = {V-}{-e-} - {-r}.
Português
|
Esperanto
|
Elementos mórficos
|
Tocar
|
Tuŝi¹
|
{Tuŝ-}{-i}
|
Tangível
|
Tuŝebla
|
{Tuŝ-}{-ebl-} {-a}
|
Intangibilidade
|
Netuŝebleco
|
{Ne-}{-tuŝ-}
{-ebl-} {-ec²-} {-o}
|
Ver
|
Vidi
|
{Vid-{-i}
|
Visível
|
Videbla
|
{Vid-{ebl-}{-a}
|
Visibilidade
|
Videbleco
|
{Vid-}{-ebl-} {-ec-} {-o}
|
Invisibilidade
|
Nevidebleco
|
{Ne-}{vid-}{-ebl-}
{-ec-} {-o}
|
¹ Tuŝi →/tu’ʃi/ – Leia-se tu’chi;
² {-ec-} = /ets/
2.
Sistema de afixação regular
Cada afixo tem um sentido claro e bem
definido, o que possibilita ao usuário a derivação de palavras sem a
necessidade de aprendê-las à parte, uma
vez que os morfemas derivacionais do
Esperanto se apresentam de maneira regular e sistemática.
Numa
língua analógica e regular, tudo nela é sistemático, recorrente e previsível. A língua Esperanto
coloca à disposição do usuário morfemas derivacionais imutáveis e bem definidos
em sua significação, o que facilita ao falante construir dezenas de outras
palavras a partir de uma raiz dada. Como afirmara Saussure,
“Existem, em toda língua, palavras
produtivas e estéreis, mas a proporção de umas e outras varia”. ... em chinês,
em sua maioria, as palavras são indecomponíveis; ao contrário, numa língua
artificial*, são quase todas analisáveis. Um esperantista tem inteira liberdade
de construir, sobre uma raiz dada, palavras novas “(Saussure, 1990: 193)”.
Vejamos:
Dada a base {Bov-},
de Boi = Bovo, é possível produzir
os cognatos:
Esperanto
|
Português
|
Bovino
|
Vaca
|
Bovido
|
Bezerro
|
Bovejo
|
Curral
|
Bovaro
|
Boiada
|
Boveto
|
Boizinho/boi pequeno
|
Bovego
|
Boi grande
|
Virbovo
|
Touro
|
Sabendo-se
que os morfemas gramaticais de derivação constituem um quadro regular, coerente
e preciso; e que o sufixo {-er-}
indica a mínima parte de algo,
facilmente pode-se deduzir uma equação com base numa regra lexical do tipo,
BASE*→PRODUTO
|
O processo de derivação caracteriza-se
pela formação de um produto(P) a
partir de uma base (B)
|
S →
S{-ero}
|
Dado
qualquer substantivo (S), pode-se prever a existência de um outro substantivo
sufixado correspondente (S-suf).
|
FAJRO→ FAJRero
|
FOGO → FAGULHA
|
→
Lê-se reescreve
*Base é um termo geral,
oposto à flexão, que abrange raiz, radical e tema (MACAMBIRA,1999:118).
Segundo Rocha
(2003:106), a derivação sufixal ou sufixação pode ser caracterizada como um
tipo de derivação que consiste na anexação de um sufixo a uma base. ... Só é
válido o estudo de um sufixo se este estiver inserido numa regra. REGRA LEXICAL
é uma relação de regularidade que se estabelece entre uma base e um produto.
Assim, segue todo um paradigma
Esperanto
|
Português
|
Fajro → Fajrero
|
Fogo → Fagulha
|
Pano → Panero
|
Pão →
Migalha de pão
|
Ligno → Lignero
|
Madeira → Filepa
|
Tempo →Tempero
|
Tempo → Instante/menor parte de tempo
|
AFIKSaro =
Elenco de afixos
PREFIXOS
|
DESCRIÇÃO
|
ESPERANTO
|
PORTUGUÊS
|
{Bo-}
|
Parentesco por casamento
|
Bopatro
Bofratino
|
Sogro
Cunhada
|
{Dis-}
|
Dispersão, distribuição
|
Disdoni
|
Distribuir
|
{Ek-}
|
Ação que começa
|
Ekflori
|
Desabrochar
|
{Eks-}
|
Que deixou de ser
|
Eksinstruisto
|
Ex-professor
|
{Fi-}
|
Moralmente mau, indecente
|
Fiviro
|
Patife, canalha
|
{Ge-}
|
Ambos os sexos, par
|
Geamantoj
|
Amantes
|
{Mal-}
|
O contrário do que expressa a raiz
|
Malbela
Mallonga
|
Feio(a)
Curto(a)
|
{Mis-}
|
Fazer algo mal/errado
|
Miskompreno
|
Incompreensão
|
{Pra-}
|
Indica um tempo remoto
|
Praelefanto
Prahomo
|
Mamute
Homem primitivo
|
{Re-}
|
Repetição do ato/ Volta ao ponto de partida.
|
Reskribi
Reveni
|
Reescrever
Voltar
|
SUFIXOS
|
DESCRIÇÃO
|
ESPERANTO
|
PORTUGUÊS
|
{-aĉ-}
|
Depreciativo físico, pejorativo,
desprezível no aspecto físico
|
Ĉevalaĉo
|
Cavalo velho/sendeiro/pangaré/matungo
|
{-ad-}
|
Ação prolongada ou repetida
|
Parolado
Pafado
|
Discurso
Tiroteio
|
{-aĵ-}
|
Coisa concreta
|
Manĝaĵo
|
Comida
|
{-an-}
|
Membro de grupo, sociedade ou
doutrina/Gentílico
|
Kristano
Pernambukano
|
Cristão
Pernambucano
|
{-ar-}
|
Coletivo
|
Fiŝaro
|
Cardume
|
{ĉj-}
|
Diminutivo de carinho para o sexo
masculino
|
Paĉjo
|
Papai/paizinho/
painho
|
{-ebl-}
|
Possibilidade
|
Farebla
|
Factível
|
{-ec-}
|
Ideia abstrata
|
Beleco
|
Beleza
|
{-eg-}
|
Aumentativo
|
Domego
|
Casarão
|
{-ej-}
|
Lugar destinado a...
|
Kokinejo
|
Galinheiro
|
{-em-}
|
Inclinação, tendência a...
|
Parolema
|
Tagarela
|
{-end-}
|
Obrigatoriedade de fazer algo
|
Legenda
|
Que deve ser lido
obrigatoriamente
|
{-er-}
|
Unidade, menor fração
|
Sablero
|
Grão de areia
|
{-estr-}
|
Diretor; chefe; líder
|
Ŝipestro
|
Chefe de navio/capitão
|
{-et-}
|
Diminutivo/baixo grau de grandeza
|
Kateto
Rideto
|
Gatinho
Sorriso
|
{-id-}
|
Descendente/filhote
|
Porkido
|
Leitão/porquinho
|
{-ig-}
|
Fazer/tornar
|
Beligi
|
Embelezar/tornar belo(a)
|
{-iĝ-}
|
Fazer-se/tornar-se
|
Maturiĝi
|
Amadurecer/tornar-se maduro(a)
|
{-il-}
|
Instrumento para realizar algo
|
Kombilo
|
Pente
|
{-in-}
|
Feminino
|
Bovino
|
Vaca
|
{-ind-}
|
Digno de/que merece
|
Trinkinda
|
Potável/Digna de ser bebida
|
{-ing-}
|
Continente parcial
|
Kandelingo
|
Castiçal
|
{-ism-}
|
Teoria/sistema/partido
|
Komunismo
|
Comunismo
|
{-ist-}
|
Profissão/ocupação/adepto de doutrina,
sistema ou ideologia
|
Artisto
Dentisto
|
Artista
Dentista
|
{-nj-}
|
Diminutivo de carinho para o feminino
|
Panjo
|
Mamãe/
mãezinha/mainha
|
{-obl-}
|
Multiplicativo
|
Duoblo
|
Duplo
|
{-on-}
|
Fração de numerais/divisão
|
Duono
|
½= Meio
|
{-op-}
|
Ação em grupo/em grupo de...
|
Triope
|
De três em três
|
{-uj-}
|
Recipiente destinado a/continente
total onde se coloca algo
|
Sukerujo
Kafujo
|
Açucareiro
Cafeteira
|
{-ul-}
|
Indivíduo caracterizado por...
|
Riĉulo
Junulo
|
Um rico
Um jovem
|
{-um-}
|
Coisa ou ação indefinida
|
Foliumi
|
Folhear
|
OBRAS CONSULTADAS
MACAMBIRA,
José Rebouças. Português Estrutural.
4.ed. São Paulo: Pioneira, 1988.
·
MATTOS, Geraldo. A Organização do Esperanto. In: LETRAS, Curitiba: UFPR, p.
24-41,1987.
·
_______________. Gramática Completa do Esperanto. 2ªed. Chapecó-SC: FONTO, 2002.
·
ROCHA, Luiz Carlos de Assis. Estruturas morfológicas do português.
Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1998.
·
SAUSSURE,
Ferdinand de. Curso de Linguística
Geral. São Paulo: Cultrix, 1990.
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