Quem sou eu

Minha foto
Fortaleza, Ceará, Brazil
Professor de Esperanto,Italiano e Português. Revisor de trabalhos acadêmicos: monografias, dissertações e teses. Profesoro pri lingvoj: esperanto, portugala, itala. Reviziisto pri akademiaj verkoj: monografio, disertacio, tezo.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2019


UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
CENTRO DE HUMANIDADES
COORDENADORIA GERAL DAS CASAS DE CULTURA ESTRANGEIRA
Esperanto-kurso

Prof. Adelson Sobrinho www.adelsonsobrinho.blogspot.com.br
PROCESSO DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS POR AFIXOS
1.    Imutabilidade morfemática

A ausência de alomorfia* nos formantes das palavras em Esperanto torna o sistema morfológico, simétrico, produtivo, econômico, conciso e plenamente regular.
 Entende-se por alomorfia a mudança da forma da palavra num de seus segmentos constitutivos, por exemplo, observe-se, em Português, a mudança da raiz {Perd-} ~ {Perc-} e a comparemos com as formas respectivas na Língua Internacional Planejada:
          
Português
Esperanto
Perder tempo não é inteligente.
Perdi tempon ne estas inteligente.
A perda do tempo é lamentável.
La perdo de la tempo estas bedaŭrinda.
Não quero que percas tempon.                      Mi ne volas ke vi ne perdu tempon.

            Portanto, como o Esperanto não permite a seus usuários nenhuma perda de tempo, ele não apresenta alomorfes em seus formantes.
 Alomorfe = Alo(outra) + morfe (menor unidade de forma). Daí alomorfe=Outra forma.





            Tomemos como exemplo as raízes {Tuŝ-} = {Toc-} e {Vid-} dos verbos Tuŝi=Tocar e Vidi = Ver:
                  {Toc-} {-a-} {-r} = {Tuŝ-}{-i}; {Vid-}{-i} = {V-}{-e-} - {-r}.
     
Português
Esperanto
Elementos mórficos
Tocar
Tuŝi¹
         {Tuŝ-}{-i}
Tangível
Tuŝebla
         {Tuŝ-}{-ebl-} {-a}
Intangibilidade
Netuŝebleco
{Ne-}{-tuŝ-} {-ebl-} {-ec²-} {-o}
Ver
Vidi
        {Vid-{-i}
Visível
Videbla
        {Vid-{ebl-}{-a}
Visibilidade
Videbleco
        {Vid-}{-ebl-} {-ec-} {-o}
Invisibilidade
Nevidebleco
{Ne-}{vid-}{-ebl-} {-ec-} {-o}

           ¹ Tuŝi →/tu’
ʃi/ – Leia-se tu’chi;
           ² {-ec-} = /ets/                                       

2.    Sistema de afixação regular
                                                Cada afixo tem um sentido claro e bem definido, o que possibilita ao usuário a derivação de palavras sem a necessidade de aprendê-las à parte, uma vez que os morfemas derivacionais do Esperanto se apresentam de maneira regular e sistemática.
                                               Numa língua analógica e regular, tudo nela é sistemático, recorrente e previsível. A língua Esperanto coloca à disposição do usuário morfemas derivacionais imutáveis e bem definidos em sua significação, o que facilita ao falante construir dezenas de outras palavras a partir de uma raiz dada. Como afirmara Saussure,
                                                  Existem, em toda língua, palavras produtivas e estéreis, mas a proporção de umas e outras varia”. ... em chinês, em sua maioria, as palavras são indecomponíveis; ao contrário, numa língua artificial*, são quase todas analisáveis. Um esperantista tem inteira liberdade de construir, sobre uma raiz dada, palavras novas “(Saussure, 1990: 193)”.
                                           Vejamos:
     Dada a base {Bov-}, de Boi = Bovo, é possível produzir os cognatos:
Esperanto
Português
Bovino
Vaca
Bovido
Bezerro
Bovejo
Curral
Bovaro
Boiada
Boveto
Boizinho/boi pequeno
Bovego
Boi grande
Virbovo
Touro



     Sabendo-se que os morfemas gramaticais de derivação constituem um quadro regular, coerente e preciso; e que o sufixo {-er-} indica a mínima parte de algo, facilmente pode-se deduzir uma equação com base numa regra lexical do tipo,
BASE*→PRODUTO
O processo de derivação caracteriza-se pela formação de um produto(P) a partir de uma base (B)
S →   S{-ero}
Dado qualquer substantivo (S), pode-se prever a existência de um outro substantivo sufixado correspondente (S-suf).

FAJRO FAJRero
FOGO → FAGULHA
Lê-se reescreve
                                               *Base é um termo geral, oposto à flexão, que abrange raiz, radical e tema (MACAMBIRA,1999:118).
                                               Segundo Rocha (2003:106), a derivação sufixal ou sufixação pode ser caracterizada como um tipo de derivação que consiste na anexação de um sufixo a uma base. ... Só é válido o estudo de um sufixo se este estiver inserido numa regra. REGRA LEXICAL é uma relação de regularidade que se estabelece entre uma base e um produto.
                                               Assim, segue todo um paradigma
Esperanto
Português
Fajro →   Fajrero
Fogo → Fagulha
Pano →   Panero
Pão →   Migalha de pão
Ligno →   Lignero
Madeira → Filepa
Tempo →Tempero
Tempo →   Instante/menor parte de tempo















AFIKSaro = Elenco de afixos
PREFIXOS
DESCRIÇÃO
ESPERANTO
PORTUGUÊS
{Bo-}
Parentesco por casamento
Bopatro
Bofratino
Sogro
Cunhada
{Dis-}
Dispersão, distribuição
Disdoni
Distribuir
{Ek-}
Ação que começa
Ekflori
Desabrochar
{Eks-}
Que deixou de ser
Eksinstruisto
Ex-professor
{Fi-}
Moralmente mau, indecente
Fiviro
Patife, canalha
{Ge-}
Ambos os sexos, par
Geamantoj
Amantes
{Mal-}
O contrário do que expressa a raiz
Malbela
Mallonga
Feio(a)
Curto(a)
{Mis-}
Fazer algo mal/errado
Miskompreno
Incompreensão
{Pra-}
Indica um tempo remoto
Praelefanto
Prahomo
Mamute
Homem primitivo
{Re-}

Repetição do ato/ Volta ao ponto de partida.
Reskribi
Reveni
Reescrever
Voltar
SUFIXOS
DESCRIÇÃO
ESPERANTO
PORTUGUÊS
{-aĉ-}
Depreciativo físico, pejorativo, desprezível no aspecto físico
Ĉevalo
Cavalo velho/sendeiro/pangaré/matungo
{-ad-}
Ação prolongada ou repetida
Parolado
Pafado
Discurso
Tiroteio
{-aĵ-}
Coisa concreta
Manĝo
Comida
{-an-}
Membro de grupo, sociedade ou doutrina/Gentílico
Kristano
Pernambukano
Cristão
Pernambucano
{-ar-}
Coletivo
Fiŝaro
Cardume
{ĉj-}
Diminutivo de carinho para o sexo masculino
Paĉjo
Papai/paizinho/
painho
{-ebl-}
Possibilidade
Farebla
Factível
{-ec-}
Ideia abstrata
Beleco
Beleza
{-eg-}
Aumentativo
Domego
Casarão
{-ej-}
Lugar destinado a...
Kokinejo
Galinheiro
{-em-}
Inclinação, tendência a...
Parolema
Tagarela
{-end-}
Obrigatoriedade de fazer algo
Legenda
Que deve ser lido
obrigatoriamente
{-er-}
Unidade, menor fração
Sablero
Grão de areia
{-estr-}
Diretor; chefe; líder
Ŝipestro
Chefe de navio/capitão
{-et-}
Diminutivo/baixo grau de grandeza
Kateto
Rideto
Gatinho
Sorriso
{-id-}
Descendente/filhote
Porkido
Leitão/porquinho
{-ig-}
Fazer/tornar
Beligi
Embelezar/tornar belo(a)
{-iĝ-}
Fazer-se/tornar-se
Maturi
Amadurecer/tornar-se maduro(a)
{-il-}
Instrumento para realizar algo
Kombilo
Pente
{-in-}
Feminino
Bovino
Vaca
{-ind-}
Digno de/que merece
Trinkinda

Potável/Digna de ser bebida
{-ing-}
Continente parcial
Kandelingo
Castiçal
{-ism-}
Teoria/sistema/partido
Komunismo
Comunismo
{-ist-}
Profissão/ocupação/adepto de doutrina, sistema ou ideologia
Artisto
Dentisto
Artista
Dentista
{-nj-}
Diminutivo de carinho para o feminino
Panjo
Mamãe/
mãezinha/mainha
{-obl-}
Multiplicativo
Duoblo
Duplo
{-on-}
Fração de numerais/divisão
Duono
½= Meio
{-op-}
Ação em grupo/em grupo de...
Triope
De três em três
{-uj-}
Recipiente destinado a/continente total onde se coloca algo
Sukerujo
Kafujo
Açucareiro
Cafeteira
{-ul-}
Indivíduo caracterizado por...
Riĉulo
Junulo
Um rico
Um jovem
{-um-}
Coisa ou ação indefinida
Foliumi
Folhear

OBRAS CONSULTADAS
MACAMBIRA, José Rebouças. Português Estrutural. 4.ed. São Paulo: Pioneira, 1988.
·         MATTOS, Geraldo. A Organização do Esperanto. In: LETRAS, Curitiba: UFPR, p. 24-41,1987.
·         _______________. Gramática Completa do Esperanto. 2ªed. Chapecó-SC: FONTO, 2002.
·         ROCHA, Luiz Carlos de Assis. Estruturas morfológicas do português. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1998.
·         SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Linguística Geral. São Paulo: Cultrix, 1990.




Nenhum comentário:

Postar um comentário