Funções do morfema {ĈU}
Adelson Sobrinho
adelsonsobrinho@bol.com.br
Embora este morfema tenha maior ocorrência em frases interrogativas simples, seu uso é de múltipla aplicação.
Ao contrário do que ocorre em Português, a entoação não é traço pertinente em Esperanto.
Usado num discurso indireto, o advérbio 'ĈU' corresponde à conjunção integrante 'SE', introdutora de orações substantivas da língua portuguesa. Por exemplo:
Não sei se ela virá.
Mi ne scias ĉu ŝi venos.
Para uma maior compreensão, poderemos dividir o período complexo em duas frases simples, a saber:
Ela virá? Não sei.
Ĉu ŝi venos? Mi ne scias.
Portanto, mesmo que no discurso escrito simples não conste o sinal (?), o leitor esperantista saberá que se trata de uma frase interrogativa.
Veja se seus irmãos chegaram.
Vidu ĉu viaj gefratoj alvenis.
Comparem-se:
• Ela afirmou que há um banheiro no centro da cidade.
• Ŝi asertis ke estas necesejo en la centro de la urbo.
• Ela perguntou se há um banheiro no centro da cidade
• Ŝi demandis ĉu estas necesejo en la centro de la urbo.
Segundo Passini (1995, p. 149), Zamenhof, sabedor da impossibilidade de se criar e transmitir aos usuários do mundo todo uma entoação interrogativa universal, criou a partícula 'ĈU' [Ču], marca obrigatória de todas as orações que já não tenham uma palavra interrogativa.
Cada língua marca a interrogativa à sua maneira. Vejamos o correspondente nas línguas nacionais modernas:
ESPANHOL: ¿usted habla Esperanto?
ESPERANTO: Ĉu vi parolas Esperanton?*
FRANCÊS: Est-ce que vous parlez Esperanto?
INGLÊS: Do you speak Esperanto?
ITALIANO: Lei parla l'Esperanto?
PORTUGUÊS: Você fala Esperanto?
RUSSO: Pravdy-li Esperanto?
*O morfema/-n/que aparece no final da frase é marca do objeto direto
A propósito, leiamos o que nos diz o mestre Macambira (1998, p. 204):
“Além do est-ce que francês, do ê, ára grego, do ne /num latino, lembramos o -li russo, o Ĉu do Esperanto e o -pa do guarani, usados igualmente para expandir a interrogativa direta total como advérbios interrogativos”.
A propósito de Zamenhof ter criado a forma ĈU, o linguista John Wells, no livro Lingvistikaj Aspektoj de Esperanto, (1978, p. 79), menciona que na língua Quéchua este morfema é formalmente idêntico com o do Esperanto. Todavia não é uma partícula, mas um sufixo. Por exemplo: Hwanito hanusam (afirmativa); Joãozinho vem; Joĉjo venas; Hwanito hanusamĉu? (Será que) Joãozinho vem? Ĉu Joĉjo venas?
Bibliografia consultada
1. MACAMBIRA, José Rebouças. Português Estrutural. 4.ed. São Paulo: Pioneira, 1998.
2. PASSINI, José. Bilinguísmo: utopia ou antibabel? Campinas: Pontes, 1995.
3. WELLS, J. C. Lingvistikaj Aspektoj de Esperanto. Rotterdam: UEA, 1978.
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