12 RESPOSTAS PARA QUEM QUER SABER SOBRE O ESPERANTO
Claude Piron
www.lernu.net
Índice:
1.
O que é
Esperanto?
Esperanto é um
instrumento de comunicação útil para pessoas de línguas diferentes.
O mundo está se
tornando mais e mais internacional. Pessoas, dinheiro e bens se tornam mais e
mais livres. Entretanto, como as pessoas falam línguas diferentes e que são
difíceis de se aprender, os pensamentos não podem se tornar totalmente livres. O Esperanto é uma solução que cria muito
bem uma ponte sobre as barreiras linguísticas. Quem aprende Esperanto, ao
mesmo tempo diz: "Eu estou aberto ao mundo."
2. Quantas pessoas sabem Esperanto no mundo inteiro?
Muitos o
bastante para que já hoje se possa sentir o "gosto" de uma comunidade
internacional real. Infelizmente não há
um jeito de saber quantos são capazes de falar Esperanto, do mesmo modo que não
dá para saber quantos entendem o latim ou, fora da China, o chinês. O
número aparentemente se situa em algum lugar entre 50 mil e 2 milhões. Seja
como for, os esperantófonos são suficientemente muitos e suficientemente
espalhados sobre nosso planeta para dar consistência a uma crescente cultura
internacional.
2.
Nós já
temos o inglês como língua internacional, precisamos mesmo de uma nova língua?
Novas culturas geram novas línguas. A cultura
internacional não é uma exceção.
O inglês é uma língua maravilhosa, justamente como todas as outras línguas
são maravilhosas dentro de sua cultura, entretanto, é ela verdadeiramente "internacional"?
Eis três pontos
para reflexão:
A) Nenhuma das
muitas organizações multinacionais ou multigovernamentais (como são a ONU, a
União Europeia e a Interpol) usa apenas o inglês, e o mesmo é válido para a
maioria das ONGs internacionais.
O fato é que tanto a ONU quanto a União Europeia
foram obrigadas a aumentar o número de línguas oficiais várias vezes.
B) A opinião de que se pode utilizar o inglês
em todo lugar do mundo é uma ilusão. Uma visita à América do Sul, regiões
na África onde se fala, entre outras línguas, o francês, Rússia, China, Japão,
etc mostra claramente que de fato trata-se de uma ilusão caso se tente
comunicar com pessoas fora dos grandes hotéis, companhias aéreas e afins. Mesmo
na Europa frequentemente não é possível usar o inglês e, quando é possível, a
gama de temas que podem ser tratados é geralmente limitada.
C) Muitos
japoneses e chineses estudam o inglês durante 10 anos na escola, entretanto a
maioria dos ex-alunos não é capaz de falá-lo. E muito poucos europeus, depois
de estudar por muitos anos o inglês, podem atingir a mesma capacidade de um que
fala inglês desde o berço. O Esperanto pode, após um período de estudos e
prática relativamente curto, se tornar uma língua que se pode sentir tal qual,
por assim dizer, "sua própria língua".
3.
É
possível ter uma língua viva sem um povo e sem um território nacional?
Sim. O que não
é possível é uma língua viva sem uma comunidade de pessoas que a usam, amam e
zelam por ela, mas essa comunidade pode ser algo diferente do que um povo e
encontrar-se espalhado pelo globo terrestre. O latim da Idade Média era uma
língua viva sem um povo: professores de Cambridge, Köln e Praga instruíam em
latim em Paris, e todos achavam isso normal. A comunidade de usuários do Esperanto de alguma forma é similar a um
povo, no qual participam pessoas de todos os povos que conservam sua própria
identidade mas adicionam a ela uma nova identidade, a "de humanidade".
Poder-se-ia dizer que o Esperanto tem um "povo" que é potencialmente
o povo de todo o planeta.
Não é a cor da
pele nem os modos à mesa que dão vida a uma língua, mas sim o desejo de
comunicação. A existência dessa vontade é mostrada, por exemplo, pela Internet,
que cresceu explosivamente nos anos passados. Essa evolução foi possível pelo
fato de que se concordou que os computadores devem usar um mesmo código, isto
é, uma mesma língua quando eles se comunicam, independentemente de serem eles
do mundo do Macintosh, Windows ou Unix/Linux. Essa evolução é de fato lógica.
Por que a mesma lógica não deve ser válida para pessoas com diferentes culturas
e línguas?
4.
A
intenção é que o Esperanto substitua todas as línguas existentes?
Não, de modo
algum. O Esperanto é uma espécie de
instrumento de defesa do direito de existir de todas línguas.
Uma das grandes
vantagens do Esperanto é que ele não é uma língua nacional, mas uma língua que
pessoas de línguas diferentes usam para trocar opiniões ou pensamentos, ou para
exprimir seus sentimentos. Esperanto
então não é concorrente de línguas nacionais ou locais mas, pelo contrário, contribui para a queda da opressão linguística
que ocorre de várias maneiras no mundo.
Além disso, a
possibilidade de ter contatos pessoais diretos com pessoas de outras culturas
provavelmente é o modo mais eficiente de se tornar experiente e rico através da
diversidade humana e cultural que nos cerca. Tais experiências frequentemente
engrandecem a vontade de saber e o interesse sobre outras línguas e culturas.
Tendo aprendido
Esperanto, muitas pessoas começam a ter autoconfiança - "Sim, eu posso
mesmo aprender uma língua estrangeira!" e vários pouco tempo depois
começam a estudar alguma língua nacional ou local. Muitos esperantistas se
interessam não apenas pelo Esperanto, mas também por línguas estrangeiras e
culturas em geral.
5.
A vasta
introdução do Esperanto não é uma utopia? A ideia parece inacreditável.
Todo progresso
útil e importante é a realização de utopias. Apenas quem já conhecesse a futura
evolução poderia dizer se algo é utópico ou não. Mas digamos: quem em maio de
1989 previu a queda do muro de Berlim e a dissolução da URSS? De fato, as
pessoas não são capazes de prever com exatidão. Em muitos livros de ficção
científica, situações complicadas não existiriam se os personagens tivessem um
celular. Estes são normais agora, mas sobre eles os autores sobre os tempos
futuros não pensaram. A evolução técnica no mundo não é uma grande
"utopia" que se realizou e continuamente se realiza?
Hoje o Esperanto é muito mais do que uma utopia. É uma proposta
efetiva, resultado de 125 anos de uso em todos os continentes e em todas as
circunstâncias da vida.
Os problemas de
comunicação linguística que hoje nós experimentamos em circunstâncias internacionais
precisam muito de uma solução. Algumas vezes as pessoas pensam que "sempre
foi e sempre será um problema", no entanto na história se encontram
exemplos de problemas resolvidos em abundância. Seria
inacreditável que nós conseguíssemos resolver também este problema?
De fato, para
muitos esperantistas de modo algum interessa se algum dia ocorrerá uma vasta
utilização do Esperanto ou não. Eles simplesmente aproveitam a língua e a
comunidade mundial em torno dela, por exemplo, trocando correspondências, viajando
ou pela música.
6.
Hoje em
dia pode-se perceber um crescente interesse em dialetos. Isso não
é divergente à ideia do Esperanto?
Paradoxalmente,
o novo interesse por dialetos é convergente
com o interesse pelo Esperanto.
Dialetos com
muita frequência são mais capazes de exprimir sentimentos e descrever relações
que são específicas para uma comunidade local definida, algumas vezes muito
pequena.
À mesma maneira, a língua internacional Esperanto
é mais bem adaptada para exprimir aquilo que pertence nem à cultura nacional
nem à cultura do dialeto, mas que é comum a todas as pessoas. O ideal seria que cada pessoa tivesse três
línguas e três identidades: a local, a nacional/regional e a mundial. A
experiência mostra que elas podem ser harmoniosas sem problemas. Um morador de
Colmar (França), que fala o dialeto alemão alzaco em casa, compreende a língua
nacional, o francês, e além disso usa o Esperanto nas suas relações com o
mundo, sente-se ao mesmo tempo alzacano, francês e cidadão do mundo, e aparentemente
tem uma vida cultural mais viva do que um francês que domina apenas a língua
francesa.
7.
Será que
cada povo não usaria o Esperanto a sua própria maneira, de modo que a língua se
dividiria?
Quando as
línguas se separam, tem-se um sinal de que os povos ou não querem ou não podem
ter um contato recíproco. O latim foi usado em um vastíssimo território durante
vários séculos, durante os quais ele manteve a unidade. Ele se desfez em
dialetos e gerou as línguas filhas do latim apenas depois que o Império Romano
se desfez e os contatos cessaram.
A evolução
técnica já respondeu à pergunta se nós podemos ter um contato recíproco —
satélites, redes de computador, celulares, meios de comunicação em massa,
trens, aviões, carros... E o Esperanto é em si mesmo uma forte expressão de que
as pessoas verdadeiramente desejam um contato direto entre si.
8.
O Esperanto
não é uma língua artificial e, por isso, não natural?
Cada língua é
produto da criatividade humana. Muitas coisas e seres que nós temos como
naturais - como pão, rosas, porcos, cachorros - de fato resultam igualmente da
aplicação da criatividade humana à natureza.
A estrutura
básica do Esperanto se formou pela seleção e refinamento de traços que a
evolução fez aparecer nas várias línguas "naturais".
Consequentemente,
o Esperanto aparenta ser totalmente natural para o falante da língua. Essa
impressão de naturalidade se deve também ao fato de que ele respeita, mais do
que a maioria das línguas, a tedência natural do cérebro humano de generalizar
os conceitos para toda a língua. Em muitas línguas há uma palavra especial para
o conceito de "melhor". Mas as crianças em tais línguas usam em
princípio a expressão "mais bom", pois elas notam a palavra
"mais" em "mais jovem", "mais bonita", "mais
forte" etc. e a generalizam também para a ideia de "bom". Apenas
a correção feita pelos pais e instrutores ou a tendência de melhor imitar os
seus próximos faz as crianças substituirem tal forma natural pela correta, a
oficial na respectiva língua. Do mesmo jeito ocorre com todas irregularidades.
Existem línguas nas quais, para dizer "peguei", não se aplica o
sistema comum (como adicionar ou modificar a terminação), mas se muda a vogal
que o verbo possui. Também nesse caso se constata que crianças ou estrangeiros
naturalmente aplicam em princípio o jeito geral para formar o pretérito, e não
assimilam logo a forma irregular. Dificuldades desse tipo são muito menos
frequentes em Esperanto.
Uma coisa
maravilhosa a respeito do nascimento do Esperanto
foi que o seu iniciador (L. L. Zamenhof)
conseguiu criar condições para que ela se tornasse algo vivo, caso pessoas
diferentes a tomassem para se compreender na prática. Isso ocorreu e a
utilização transformou o projeto em língua viva. O que o desconhecido oftalmologista em Varsóvia em 1887
semeou na forma de brochura não era mesmo mais do que uma semente. Uma semente
que achou um terreno favorável (pessoas que aspiravam por uma língua para
facilmente se comunicar através das barreiras linguísticas) e que neste terreno
naturalmente cresceu e fez-se vivente.
Embora a
"semente" do Esperanto tenha sido disseminada por apenas uma pessoa,
a língua evolui igualmente como as outras línguas evoluem, por causa da
utilização.
Embora a base sempre fique igual (ela é
apresentada no livro Fundamento de Esperanto), a língua agora tem muitas
palavras e expressões que não tinha há cem anos. Então, o Esperanto se
enriqueceu e continuamente se enriquece. A
evolução da língua é seguida e documentada pela Akademio de Esperanto
(Academia de Esperanto).
9.
Por que
linguistas eminentes exprimem opiniões negativas sobre o Esperanto?
Aqueles que
melhor conhecem a complexidade de uma língua são os linguistas. Talvez
justamente por causa disso, muitos deles, que são entre outras coisas pessoas
grandemente competentes, não podem acreditar que o Esperanto pode funcionar
como língua plena, viva, e por isso digna de atenção e pesquisa.
Língua é algo
tão complexo e delicado que o aparecimento de uma língua verdadeira, rica e
viva, baseada sobre um projeto de um jovem (Zamenhof tinha 27 anos quando apresentou o Esperanto após mais de dez anos
de trabalho sobre ela) é algo demasiado improvável. Naturalmente então há os
que são céticos. Mas se alguém verifica a realidade, vê-se que o Esperanto
funciona maravilhosamente bem para a comunicação internacional.
10.
É
possível usar o Esperanto para discussões de alto nível, poesia e para exprimir
sentimentos?
Sim. Havia
poesia já na primeira brochura sobre Esperanto, que apareceu em 1887. Aparecem
regularmente novos textos poéticos, e muitos poemas clássicos famosos estão
traduzidos para o Esperanto.
O simples fato
de que existem boas traduções para o Esperanto da Monadologia de Leibniz, dos
Sonetos de Shakespeare, de vários livros de Tintin de Hergé, de O Senhor dos
Anéis de Tolkien, de Pedra Faminta de Tagore, de O Diário de um Louco de Lu
Xun, da Bíblia, do Alcorão e dos Analetos de Confúcio, e que muitas obras
poéticas aparecem provam a serventia desta língua para a construção literária.
A discussão
ganha muito em clareza, distinção e qualidade quando todos podem diretamente se
exprimir pela língua que eles sentem que eles dominam bem, e quando os ouvintes
logo podem entender o que é dito, porque também eles sentem-se em casa na
língua usada. Isto é demonstrado por amplas experiências dos Congressos
Universais de Esperanto anuais, e dos muitos encontros internacionais,
seminários sobre temas científicos, universidades de verão, etc., que ocorrem
anualmente e onde as aulas, discussões e bate-papos no corredor ocorrem em Esperanto.
A história
conta sobre muitas pessoas de diversas partes do mundo que exprimem seus
sentimentos através do Esperanto. Igualmente, seja em livros, cantos, poemas,
seja durante encontros com outras pessoas. Quem participa da vida da comunidade
esperantista sabe que se pode em Esperanto insultar alguém, disputar
ferrenhamente, mas também exprimir sua solidariedade, sua participação no
sofrimento do outro, assim como o mais profundo amor.
11.
Por que
aprender Esperanto? Como é possível usar a língua?
Se você se
interessou pelo Esperanto e gostaria de saber mais sobre como é possível usar a
língua, queira visitar http://lernu.net/enkonduko,
lá você encontrará várias respostas para as perguntas "Por que aprender Esperanto",
"Como usar a língua" e outras mais.
Respondido pelo
tradutor, psicólogo e autor Claude Piron,
em colaboração com a equipe de lernu.net.
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