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Professor de Esperanto,Italiano e Português. Revisor de trabalhos acadêmicos: monografias, dissertações e teses. Profesoro pri lingvoj: esperanto, portugala, itala. Reviziisto pri akademiaj verkoj: monografio, disertacio, tezo.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012



A palavra SE como apassivador: explicação histórica
Horácio Rolim de Freitas

          A norma culta admite a existência da chamada passiva sintética com a partícula se, em frases como: VENDEM-SE CASAS.

            Dois são os argumentos dos que defendem essa construção:

           1º) sendo o verbo TER transitivo direto, pode ter voz passiva;

           2º) esta construção com a partícula SE equivale à passiva analítica: CASAS SÃO VENDIDAS. Logo, o substantivo CASAS, nos exemplos, representa o sujeito, devendo o verbo com ele concordar.

          Said Ali não admite tal construção como voz passiva sob os seguintes argumentos:

1º) “Analisar indiretamente, por meio de substituição é dar asas à fantasia”.

2º) “São estruturas e significações diferentes: VENDE-SE ESTA CASA e ESTA CASA É VENDIDA.

          Said Ali considera, portanto, voz ativa, sujeito indeterminado e substantivo posposto, complemento verbal.

É como, aliás, percebe o falante na linguagem coloquial.

          Ao lado de Sai Ali estão Sotero dos Reis, Antenor Nascentes e Clóvis Monteiro. Este assim se pronunciou sobre o pronome apassivador:

               “A função subsidiária que, nesse caso, se atribui ao SE, é circunscrita à esfera dos eruditos. É ignorada pelo povo, que, instintivamente, rejeita, por contrário à índole da língua, aquilo que, muitas vezes, é ouro de lei para os gramáticos.”

Não há dúvida de que tal construção não tem o respaldo da linguagem coloquial. O usuário da língua não sente nenhuma ideia de passividade. Eis o real fato sincrônico.

          Faltava, no entanto, a explicação diacrônica, a origem de tal construção.

          Esse estudo, que viria, definitivamente, justificar a aversão que o falante tem em flexionar o verbo junto à palavra SE (VENDE-SE CASAS / CONSERTA-SE RELÓGIOS) se deve à tese de doutorado do Prof. Castelar de Carvalho. Pesquisador de primeira linha, que, antes, já nos dera a obra Para compreender Saussure, solucionou a origem da chamada passiva pronominal na obra O Pronome Se: uma palavra oblíqua e dissimulada.

         Comprovou o autor que nunca a palavra SE funcionou no latim clássico como elemento apassivador. Nem o latim vulgar deu guarida a tal construção.
       O Prof. Castelar cita eminente autoridade no assunto, Henri Müller, no artigo A Voz Passiva no Latim Vulgar, publicado pela Columbia University Press, em 1962: “Passiva pronominal é uma criação das línguas românicas, não do latim. A passiva pronominal é uma invenção renascentista”.

       Eis a lição de Castelar de Carvalho: “O SE pronome apassivador tem sua origem no uso da perífrase verbo pronominal com sujeito inanimado (Ex.: Agita-se a palmeira.), construção que acabou por se prestar a uma interpretação ambígua: de um lado, como medial dinâmica (A palmeira agita-se) com a personificação do sujeito; e. de outro, com a voz passiva, a chamada passiva pronominal românica, interpretação que veio a prevalecer no registro culto da língua portuguesa.”.
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ROLIM DE FREITAS,Horácio. Aspectos Diacrônicos e Sincrônicos da Língua Portuguesa, in: Confluência, Revista do Instituto de Língua Portuguesa, nº 20-2º semestre de 2000- Rio de Janeiro, p. 82-83.





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