FATORES INTRÍNSECOS E EXTRÍNSECOS QUE
OUTORGAM AO ESPERANTO O TÍTULO DE VERDADEIRAMENTE INTERNACIONAL
Adelson Sobrinho
‘Por ke
lingvo estu internacia, ne sufiĉas nomi ĝin tia”(Zamenhof)
‘“Para que uma língua seja
internacional, não basta denominá-la como tal”
“Uma língua internacional artificial, bem
construída, é muito mais fácil de aprender que quaisquer línguas nacionais,
aguça a perspicácia do indivíduo na estrutura lógica da expressão, de uma
maneira por que nenhuma destas outras faz, e põe o indivíduo na posse de uma
grande soma de material léxico, que poderá ser útil na análise da própria
língua do falante e na maioria das outras que ele possa necessitar aprender” (SAPIR: 159).
Abaixo listamos os fatores endógenos (linguísticos) e exógenos
(político-social, psicológico e econômico) do Esperanto.
Fatores intrínsecos
1.
Internacionalidade
léxica – léxico tomado às mais díspares línguas, numa proporção de
60% do latim, 30% das línguas neolatinas e de 10% das eslavas. Zamenhof
selecionou os radicais mais semelhantes e ocorrentes nas línguas nacionais.
Sem essa convenção, a nova língua não evoluiria e estaria fadada ao
desaparecimento, como aconteceu com os demais projetos que a antecederam.
“O vocabulário
de uma língua internacional não poderá ser arbitrariamente inventado, mas
deve infalivelmente constar de palavras latino-germânicas em sua forma mais
comumente empregada”.
...”Existe
um número imenso de palavras estrangeiras que são usadas igualmente em todas
as línguas e que todos conhecem sem precisar aprendê-las; deixar de empregar
tais palavras seria completo absurdo; o vocabulário todo tem de estar em
harmonia com elas, senão a língua ficaria selvagem, a cada passo se dariam
entrechoques de elementos e ficaria dificultado o enriquecimento regular e
incessante do idioma” (Zamenhof, 1988:95).
2.
Regularidade gramatical-
língua paradigmática. Gramática otimizada, composta de apenas 16 regras
básicas. Nesta língua não existe o elemento restrição: o que vale para um
item gramatical é aplicável a todos os demais, sem exceções.
3.
Imutabilidade morfemática- ausência
de alomorfia nos formantes das palavras, o que torna o sistema morfológico
plenamente produtivo, econômico e facilmente analisável.
4.
Alfabeto fonêmico – Sistema simétrico plenamente
regular, composto de 28 sons correspondentes a 28 letras, na razão de 1:1, ou
seja, a cada fonema corresponde um, e somente um grafema.
5.
Sistema de afixação regular –
Cada afixo tem um sentido claro e bem definido, o que possibilita ao usuário
a derivação de palavras sem a necessidade de aprendê-las à parte.
De 573 morfemas,
formam-se, por exemplo, 2840 palavras, todas advindas de um mesmo radical.
6.
Concisão – possibilita ao usuário
expressar o máximo com o mínimo de recursos de que dispõe.
7.
Simplicidade prosódica – língua de acento
fixo, em que o ícto (acento tônico)
cai sempre na penúltima sílaba, o que facilita sobremodo a pronúncia.
“Depois de um quarto de hora de estudo (isto é, o
simples conhecimento do alfabeto), pode-se tomar nela um ditado, enquanto em
uma língua natural isso só se consegue após anos de trabalho difícil e
enfadonho” (ZAMENHOF: 1983, 55).
8.
Plena flexibilidade – tipologia sintática semelhante
às mais diversas línguas modernas, o que lhe permite traduzir obras das mais
díspares culturas.
9.
Relativa
facilidade de aquisição – A ideia
de Zamenhof era elaborar um fundamento linguístico internacional que pudesse
ser aprendido em pouco tempo e com pouco esforço por todos os povos. Para
tanto, o Esperanto foi planejado de forma que cada elemento de sua estrutura
se coadune morfossintaticamente com os demais. Esses elementos se relacionam
formando um conjunto composto de partes coerentes e coesas, como num jogo de
quebra-cabeças em que o todo só tem sentido se, e somente se, as partes
estiverem bem concatenadas.
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Fatores extrínsecos
1. Máxima internacionalidade
– única língua cujo primeiro e principal papel é o uso internacional. Condição
primeira para que uma língua possa desempenhar o papel de internacional.
“Uma língua nacional, por mais
difundida que seja, sempre estará a serviço dos interesses da nação que a
possui, conferindo superioridade aos nativos e, por isso mesmo, contrariando
os sentimentos de justiça e fraternidade que devem prevalecer nas relações
entre indivíduos e povos. O Esperanto, ao contrário, sendo propriedade de uma
coletividade internacional que o sente como sua língua, consagra e fortalece
tais princípios.” (SOARES, 1995, p.24).
2. Universalismo - base fundamental
neutra nos princípios de fraternidade, igualdade e justiça recíprocos entre
os povos.
3. Neutralidade política – condição primeira
para o desempenho de interlíngua. Este aspecto só o Esperanto possui, porque
pertence a todas as nações, sem pertencer particularmente a nenhuma. “O acatamento geral a uma forma
de expressão que não se identifica com nenhuma unidade nacional, provavelmente
há de ser um dos mais poderosos símbolos da liberdade do espírito humano que
o mundo jamais conheceu” (SAPIR, 1969:
157).
4. Cultura transnacional – Enquanto uma cultura nacional enfatiza as idiossincrasias de uma
determinada nação, a cultura esperantista coloca em destaque tudo o que há de
comum entre os povos, sem distinção de raça, credo, partido político, posição
social etc. Essa cultura se baseia nos aspectos universais humanos, ou seja,
em tudo o que coloca os homens em pé de igualdade. Não se impondo à
vida interna dos povos, propõe EQUANIMIDADE entre os idiomas. Sua divisa é ‘PARA CADA POVO, SEU IDIOMA; PARA TODOS OS
POVOS, ESPERANTO”.
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OBRAS CONSULTADAS:
1.
SAPIR, Edward. Linguística como ciência. Rio de
Janeiro: Livraria acadêmica, 1969.
2. SOARES,
Afonso. Esperanto – Síntese de longo processo evolutivo. Artigo. Revista
Reformador, janeiro, 1995, p.24.
3.
ZAMENHOF, L.L. Essência e Futuro da Ideia de uma
Língua Internacional. Rio de Janeiro: Zamenhof Editores, 1988.
4. __________. Esenco kaj estonteco de la ideo de lingvo
internacia. Svedio: INKO, 2000.
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